“De Grátis” ninguém almoça
Por Manoel Fernandes Neto
Queridas Rafaela e Manuela
Não passa uma semana sequer sem que eu ouça a frase: “Mas é tão pouquinho, você vai cobrar?” São os mais variados serviços – alguns de valores pequenos. O que chamamos de hora técnica. Isso vem de parceiros, amigos, primeiros contatos, possíveis clientes. Não é comum haver aqueles que dizem: “Me mande o preço antes”, como na época do meu pai, avô de vocês. Mestre de obras com grande experiência, não cansava de repetir uma máxima: “O combinado não é caro”.
Na era da Internet, com o “de grátis” em todos os lugares e formatos, as pessoas se acostumaram a não pagar. “Quero uma loja diferenciada, única, com tudo a que tem direito”. E me passam centenas de sites com dezenas de aplicativos e sistemas, mas na hora da proposta… “Ficou caro, tenho um amigo que cobra bem mais barato… Não quero fazer leilão, você é um grande profissional, mas esse amigo faz pela metade do preço. Se você cobrir, fechamos já.”
Rafa e Manu, saibam: nunca cubro. Tecnologia não é mesmo leilão. Acostumei-me a nunca colocar “gordura” nos preços. É o que é. Tudo explicadinho na proposta. Parte técnica, de criação, atendimento, conteúdo e – o mais importante: transferência de conhecimento. De práxis, a proposta nunca é seguida fielmente. Sempre são feitas coisas a mais. Detalhes que custam, mas você faz porque quer ver o projeto bonito e eficiente.
Mas não são desses detalhes e ajustes que tratamos aqui. Falamos aqui dos suportes eternos, que sobrevivem mesmo anos depois da entrega do trabalho. “De grátis”. Gente que se ofende quando você cobra. “Puxa vida, e a nossa amizade?”, dizem. Gente que foge de qualquer valor mensal que signifique suporte técnico ou de usuário.
Diferentemente de edificações, reformas e construções que meu pai concluía e o cliente recebia um bem com longa duração antes da primeira reforma, um projeto ou sistema para internet é vivo. Respira, fica doente, envelhece, conversa, entra em conflitos internos. Quem ainda se ilude e quer colocar um site “para eu mesmo administrar”, não conhece nadinha de Internet como mídia de diálogo e marketing de permissão. Flerta com o fracasso. Não se importa com o próprio negócio, excluindo de seus investimentos quem faz de fato internet.
Meninas, lembrem-se: valorizar, sim, aqueles que valorizam os profissionais. E tenho dezenas de clientes assim. Que perguntam sempre sobre o orçamento, que remuneram mensalmente, que se importam com sua equipe. Que o pagamento tem um valor além do “comprar” um ajuste, um suporte, um sistema; esses querem mesmo você ao lado para assimilar conhecimento. Aprender. Trocar ideias. Ter você ao alcance, no apoio e na assessoria, diante de um meio que se transforma todos os dias. Esses, sim, querem estar com uma retaguarda para qualquer eventualidade. Esses, sim, sabem o significado de construir uma Internet além de bytes e lucros.